quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Os Males do Egoísmo




Em respeito ao sacramento da ordem, é considerado nas linhas abaixo o desejo de perfeita iluminação a fim de que, os leitores reconheçam a dignidade sacerdotal em que Deus nos pôs.




Sem a iluminação divina não conseguimos reconhecer a dignidade sacerdotal. E não a reconhecendo, deixaremos de louvar e glorificar a suprema bondade que nos concedeu; nem alimentaremos a fonte da piedade na gratidão. Com exagerado descuido e falta de gratidão, nossa alma se delibitará. Sem esse conhecimento não existe amor. Quem não ama a Deus, não lhe agradece. É muito necessária, pois, a iluminação divina.




O egoísmo é uma árvore frutifera enraizada no orgulho. O egoísmo nasce do orgulho e vice-versa. O egoísta é presunçoso. Os frutos dessa árvore são mortíferos para a vida da alma. Alimentando-se com tais frutos em suas tendências individualistas, a pessoa voluntariamente cai no pecado mortal, vivendo sem o autoconhecimento, que é pai da humildade. E esta última, por sua vez, constitui a raiz da caridade que tudo orienta. Quem ama a si mesmo, não conhece a Deus, ardente chama de amor. Assim despojado da iluminação divina, tão necessária, e sem conhecer a Deus, o cristão não ama. Assemelha-se a um animal.




Ao contrário, o cristão que usa a razão torna-se um anjo na terra. Sobretudo os sacerdotes, que Deus chama de "ungidos" (Sl 104.15; 2 Rs 1.14), devem ser anjos, não homens! E realmente o são, quando não recusam a iluminação divina. O sacerdote desempenha o ofício dos anjos! O anjo está a serviço de cada pessoa por diversos modos conforme Deus o quer, ao colocá-los como nossos protetores. Assim os sacerdotes na hierarquia dão-nos o corpo e o sangue de Cristo crucificado, Deus e homem pela união da natureza divina com a humana; em Jesus a alma estava unida ao corpo; a alma e o corpo estavam unidos à divindade, em natureza igual à de Deus Pai. Mas o sangue e o corpo de Jesus devem ser ministrados por pessoas retamente iluminadas por Deus na ardente chama do amor, para suas almas não serem devoradas pelo lobo infernal. Sacerdotes assim alimentam-se de virtudes, que depois são dadas ás almas para a vida na graça, como frutos de um amor perfeito e verdadeiro.




Como dissemos antes, agem diversamente os que cultivam na alma a árvore do egoísmo. Toda a sua vida é corrompida, uma vez que corrompida está a raiz principal, a afeição da alma. Se são leigos, mostram-se maldosos nas suas funções: cometem injustiças, vivem na impureza sem nenhuma racionalidade. Nem merecem ser chamados de homens porque, guiados pelo instinto animal, renunciaram à luz da razão. Tratando de obreiros ou pastores, suas vidas não imitam a vida dos anjos, nem a dos homens, mas a dos animais, que rolam na lama. Às vezes são piores que os leigos! De que ruína e castigos são dignos! A linguagem humana é incapaz de o descrever.




No dia do juízo, a alma experimentará! Tais pessoas desempenham o papel dos demônios, que procuram afastar as almas de Deus para levá-las consigo ao falso descanso. Também eles abandonaram a vida reta e santa, perderam a iluminação divina, vivem na maldade. Nós obreiros e pastores sabemos disso e o vemos! Há obreiros cruéis consigo mesmos, amigos do demônio e companheiros dele antes da hora. São cruéis também com os outros, pois não amam o próximo na caridade. Não protegem as almas; devoram-nas. Põem-se a si mesmos nas mãos do lobo infernal. Ó homem infeliz! Quantas coisas te pedirá o supremo juiz e tu não as poderás dar. Por isso cairás na morte eterna. Não percebes o castigo futuro, porque estás sem a iluminação divina, não tens consciência da missão que Deus te deu.




Alguém assim não leva vida de cristão-evangélico-protestante, porque tudo nele está desordenado. Nem leva vida de pastor ortodoxo, fiel à liturgia denominacional, a vida devocional como é seu dever, cuidando dos necessitados, zelando pela Igreja. Ao contrário, tais pessoas vivem como senhores, no luxo e nos prazeres, com muitos ornamentos, muita comida, muito orgulho e empáfia. Parecem insaciáveis. Se possuem um benefício, querem dois; se possuem dois, querem três. Jamais se dão por satisfeitos. No lugar das horas devocionais - oxalá não fosse verdade! - põem prostitutas, armas e segurança eletrônica, como para se defenderem de Deus contra quem está em guerra. Mas como lhes será difícil, quando o Senhor estender para eles a vara da justiça divina. Com seus bens, tais infelizes alimentam filhos e outros demônios encarnados, amigos seus.




Pois bem, tudo isso brota do egoísmo, que dissemos ser uma árvore cujo fruto é o pecado. Árvore que dá morte à alma, retirando-lhe a graça e privando-a da iluminação divina. Sendo o egoísmo tão perigoso, ocorre fugir dele e estar atento para que não penetre na alma. E se aí já estiver, é preciso procurar o remédio.




O remédio contra o egoísmo é este: permanecer na cela do coração, reconhecer que por nós mesmos nada somos, reconhecer a bondade divina, pois de Deus tudo recebemos, reconhecer os próprios defeitos, reprimir a sensualidade. Com isso nos afastamos do egoísmo, nos vestimos de caridade, roupa nupcial indispensável para a vida eterna. Diante da porta da cela do coração, ponha-se como cão de guarda a consciência. Latirá ela ao se aproximarem os inimigos, que são os variados sentimentos do coração. Mas também latirá para os amigos quando chegarem, ou seja, para os bons desejos de praticar o bem. Juiz da consciência será a razão iluminada pela fé, a qual dirá se os sentimentos são bons ou maus. Dessa forma, a cidade da alma estará fortemente defendida, de maneira que o demônio ou qualquer outra criatura possa tomá-la de assalto. E tal cidade crescerá na virtude, até o dia da vida eterna. Sob a luz da razão (iluminada pela fé) e livre do egoísmo, a alma crescerá.




Em tudo isso pensava eu, quando afirmei no começo que estava desejoso de ver a iluminação sacerdotal. Quero que nos acordemos do sono da negligência e vivamos iluminados. Então seremos anjos na terra, mergulhados no sangue do Crucificado, em suas chagas. Permaneça no santo amor de Deus. Nada de bom tenho a mostrar de mim mesmo, além de uma grande miséria e pouco entendimento. O resto pertence a Deus, suprema e eterna Verdade. Atribuí a Ele tudo, não a mim.




Jesus doce, Jesus amor.

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